Donald Trump cedo se mostrou defensor das criptos, mas agora está a deixar a comunidade cripto num estado de nervos crítico.
Depois de o casal Trump parodiar com a emissão das suas memecoins, deixando os bitcoiners perplexos, hoje Trump volta a carregar com o dedo na ferida que ainda nem estava cicatrizada.
A Trump Media (companhia onde os Trump são maioritários) decidiu esta quinta feira largar a informação de que se prepara para lançar os seus próprios ETF (Exchange Trade Funds).
Lembra-se do secretário de Estado que por cá preparava plano de reordenamento de território – a famosa “lei dos solos” – e que decidiu abrir duas imobiliárias? Já lá vamos!
Trump, como Presidente dos EUA, vai assumidamente legislar sobre criptos, energia e muitos outros sectores. Esse é um dos grandes papéis dos presidentes e, neste caso, já vinha da campanha eleitoral a defesa do “Make America Great Again”, onde se subentendia um forte espírito de defesa do “Made in America”.
Mas Trump vai também legislar sobre tarifas, e com isso ter poder de decisão sobre a performance de cada sector ou mesmo empresa com base nas tarifas que vier a impor.
Trump é um marionetista, que vai ter mão em tudo o que mexe e até em tudo que estava quieto, porque vai poder decidir sobre economia ao mesmo tempo que vai poder decidir sobre o emagrecimento do Estado, o que quase sempre significa, por sua vez, a passagem de grande parte das operações para privados.
Ora, o secretário de Estado português que abriu as duas imobiliárias estava a jogar nos iniciados quando comparado com o que Donald Trump decidiu fazer :
Trump não vai criar duas empresas. Trump vai criar de uma assentada três fundos ETF debaixo da sua empresa Trump Media, ETFs estes que naturalmente terão por debaixo dezenas, centenas ou até milhares de empresas. Fixe estes nomes já anunciados:
- Truth.Fi Bitcoin Plus ETF
- Truth.Fi Made in America ETF
- Truth.Fi Energy Independence ETF
Ora, o que são estes fundos ETF? Estes fundos serão, como todos os ETF, angariadores de investidores para que o fundo compre ações de empresas (ou criptoativos ou outros ativos) que cumpram os critérios para fazer parte de cada um desses ETF.
A escolha das empresas que possam fazer parte do fundo são definidos pelo gestor do fundo, é certo. Sendo o fundo criado pela linha Trump, isso já de si levanta algumas questões, mas considerando que, além disso, o Presidente pode, pela via das políticas implementadas, beneficiar um determinado sector e prejudicar outro, é caso para ficar de boca aberta!
Comecemos pelo Bitcoin Plus ETF
A bitcoin reagiu imediatamente em baixa, ao ser referida na designação de um dos fundos cujas marcas já foram registadas. Os investidores institucionais em bitcoins não procuram estas confusões no mercado.
Já existem imensos ETF de bitcoin e um que esteja ligado ao Presidente parece ser, de facto, mais uma ameaça do que uma oportunidade para a bitcoin.
Num artigo que escrevi há tempos, e que gerou imensa polémica, eu dizia que o grande risco da bitcoin é a concentração excessiva da bitcoin nos Estados Unidos e o consequente desinteresse de outros países. A julgar pela reação agora, parece que cada vez muita gente começa a partilhar esta preocupação.
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A Bitcoin, como tecnologia que representa, está a fazer o seu percurso de consolidação e aceitação sem necessitar destes empurrões inconsistentes e até contra o princípio com que foi criada.
Os investidores institucionais ficaram nervosos, já os degens querem mesmo é que se fale de bitcoin e, como tal, ficaram ao rubro com a notícia. O problema são os que têm “deep pockets”: os que têm muitos fundos para investir em bitcoin já estão do lado dos institucionais e não dos pequenos investidores. A bitcoin já não oscila pela euforia dos pequenos investidores mas sim pelas bazucas institucionais que as famosas Whales, grandes empresas ou ETFs disparam para cima ou para baixo. Neste caso foi para baixo e os degens depressa perderam o entusiasmo com a notícia.
Mais uma vez, Trump desiludiu os bitcoiners que tantas expectativas depositaram nele – inclusive, o voto -, e mais uma vez a bitcoin caiu bem abaixo dos 100 mil dólares, nível que já era tido como uma base robusta pelo menos até à emissão das memecoins Trump.
Quando temos um Presidente a entrar nos negócios e a legislar sobre negócios, sabemos que não vai correr nada bem. Neste caso temos, ainda por cima, mais água a correr debaixo da ponte do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) – liderado por Elon Musk. Por coincidência, a cripto preferida de Elon Musk é mesmo a Doge Coin.
Musk já anunciou que quer “blockchainizar” o departamento DOGE, o que é uma excelente notícia. É esta a razão pela qual chamo a bitcoin – que é também uma blockchain – de uma evolução tecnológica, pois a blockchain tem este tipo de aplicabilidade:
as despesas americanas inseridas numa rede blockchain seriam de imediato sujeitas a escrutínio, imutáveis e inalteráveis, o que daria ao governo uma efetiva capacidade de controlo, pela transparência e responsabilização. Vamos ver se Musk não vai decidir tokenizar a despesa, ou a poupança, ou outra coisa qualquer, e com isso criar mais uma cripto, uma memecoin ou outra coisa qualquer. Mas pior seria Musk usar o DOGE para puxar pela sua cripto preferida: a DogeCoin.
Made in America ETF
Não consigo não reconhecer que é uma ideia de mestre e um produto de mestria. À data de hoje, existem efetivamente ETF que agregam apenas empresas americanas, mas nem sempre a filiação da empresa significa que a sua produção seja feita no mesmo solo.
Com este produto “Made in America ETF”, a Trump Media irá oferecer aos investidores, sobretudo aos mais nacionalistas, não só a visibilidade quanto a quem produz efetivamente em solo americano como também a oportunidade de investirem exclusivamente nessas empresas, pela via de um único ETF agregador.
Trump tem um forte apoio nas franjas mais nacionalistas e sabe como mantê-las motivadas .
Em Portugal, fizemos em tempos campanhas de “Made in Portugal e o “vá para fora cá dentro” precisamente com o propósito de defender o que é nosso, e essas campanhas ajudaram de certeza o mercado interno, mas serviram de pouco para financiar as empresas para lá das vendas imediatas e do fundo de maneio. Com um ETF deste género, as empresas acabam por usar a valorização das suas ações para obter capital para investir e crescer.
É portanto uma ideia de génio, mas não é propriamente fácil reconhecer que um produto destes nas mãos ou na esfera do Presidente seja algo muito para lá do conflito de interesse como o conhecemos por cá. Basta ao Presidente (que por acaso é Trump) aumentar tarifas de importação aos produtos de fora e estas empresas “Made in America” disparam de imediato em valor. E por consequência…dispara o valor do tal ETF!
… e o Energy Independence ETF
Mais uma excelente jogada de Trump. A energia é dos sectores com mais transações transfronteiriças e, como tal, sofre enormes impactos resultantes de mudanças geopolíticas. Energia é mais política do que negócio.
Não sei o que estará na mente de Trump, mas arrisco que, além de nas empresas americanas exploradoras e transformadoras de petróleo, Donald Trump está a pensar na dependência face aos chineses na área solar e aos europeus na área eólica, mas eu arrisco dizer que Trump está a preparar a nova vaga de tecnologia disruptiva para produção de energia.
Bill Gates não negou que teve uma excelente conversa com Trump e Bill Gates está muito, mas mesmo muito focado na reimplantação das centrais nucleares.
Não estamos a falar das centrais que conhecemos, mas num nuclear assente em novas tecnologias: os “Small Modular Reactors” ou SMR.
Os SMR são de facto um conceito muito diferente do das centrais nucleares que conhecemos e a tecnologia SMR tem evoluído bastante de forma quase silenciosa nos últimos 10 anos.
Não é nada de muito novo, mas é uma miniaturização de muito do que existe encapsulado de forma bem diferente. Em bom rigor, está mais aproximada dos propulsores nucleares militares há muito usados em porta-aviões e submarinos do que das gigantes centrais que nos fazem lembrar Chernobyl.
Depois do choque com a inteligência artificial da DeepSeek, e do levantar da evidência de que os americanos talvez não estejam tão sozinhos no que toca a IA, esta tecnologia nuclear SMR é talvez a maior bandeira que restou a Donald Trump. São já algumas as empresas americanas a trabalhar em SMR e em estado bem avançado. Estou convencido de que integrarão este ETF.
Os americanos levaram as empresas para o governo e os governos para as empresas. Acabou-se tudo o que se conhecia antes…vamos ver se será para melhor.
Quem é que vai dizer a Trump que um secretário de Estado português se demitiu por causa de duas meras empresas imobiliárias?…
Artigo de opinião publicado na CNN, veja aqui
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