É o Jogo da Glória. Os Jornalistas decidiram dar um murro na mesa e mudaram a estratégia

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José rodrigues dos santos decidiu ser jornalista. Acredito que não precise sequer de o ser e por isso mesmo, sem medos, deu o seu murro na mesa a defender os jornalistas e o jornalismo.

A sua entrevista a Paulo Raimundo pode muito bem ficar para a história como a entrevista mais marcante na defesa da democracia.

Os políticos andavam há anos e anos a fazer dos jornalistas uns autênticos “chega-me isso”. Iam para as entrevistas com uma completa falta de respeito pelos interlocutores esquecendo-se que ser entrevistado é uma honra e não uma obrigação.

Não sou jornalista, mas admito que a preparação de uma entrevista seja lá a quem for, mas sobretudo aos políticos, deve ser algo muito difícil de preparar.

As perguntas numa entrevista parecem fluir e tudo parece casual, mas não será bem assim. Há, porque tem que haver, um trabalho de pesquisa bastante complexo para a preparação das entrevistas. As entrevistas são também audiência e o tipo de perguntas deve espelhar em antecipação aquilo que a audiência gostaria de perguntar.

Os políticos habituaram-se a uma condescendência imposta aos jornalistas, permitindo que a resposta às perguntas fosse independente das perguntas que são feitas. Quando o jornalista pergunta alhos, nem bugalhos recebe. Recebe sim um discurso qualquer preparado pelos políticos com o que tinham que dizer e não com o que tinham que responder. Parece que isso está em vias de extinção.

O trabalho de um jornalista não é esse e, uma entrevista é uma entrevista, não é um local de brainstorming ou sequer de tempo de antena. As entrevistas são a forma de escrutínio publico e não um outdoor falado. Todos os políticos querem estar presentes nos espaços de entrevistas que normalmente são em horário nobre e têm o maior alcance possível em televisão, mas depois não dão o valor devido à contra-parte que se preparou horas a fio para o dito momento.

José Rodrigues dos Santos fartou-se e decidiu mudar o mundo. Saiu a fava a Paulo Raimundo porque foi o primeiro, mas está visto agora que não foi o único como José Rodrigues dos Santos não é o último.

A lição que Paulo Raimundo levou do José foi violenta. Talvez até nem merecesse ser o primeiro a arcar com a mudança de atitude dos jornalistas. Mas alguém tinha que ser o primeiro.

O Jogo da Glória

José Rodrigues dos Santos parece ter adotado a técnica do Jogo da Glória. Só passas para a casa seguinte depois de lançar os dados e só lanças os dados depois de responderes à pergunta anterior. Se por acaso lançares os dados sem responderes, andas três casas para trás. Paulo Raimundo acabou atrás da casa de onde começou, mas talvez hoje devesse estar muito agradecido à lição que recebeu. A prestação nos debates mudou muito em Paulo Raimundo e pode ter sido José a ter despoletado o Click.

A audiência pode não ter percebido este grito jornalístico, mas os jornalistas perceberam bem e quase todos hoje adotam exatamente a mesma técnica de auto valorização do seu trabalho. Todos os entrevistados estão a receber o que recebeu Paulo Raimundo e o mundo está a ficar mais transparente e democrático.

Os jornalistas estão a arriscar tudo e a destemer a opinião pública. Os bons jornalistas decidiram ir ler novamente o Código Deontológico dos Jornalistas ao mesmo tempo que interiorizaram a sua responsabilidade, o seu dever, e o seu poder na defesa da democracia.

Há uma diferença muito grande entre um jornalista, um comentador, ou um mero “opinador” como eu: Os jornalistas têm obrigações e deveres. A pressão das redes sociais levou-os cada vez mais para o vazio do comentário imediato e para o vazio factual. As audiências obrigam e os media respondem, mas se não forem os jornalistas a mostrarem o quanto são diferentes, um dia só teremos pivots e comentadores sendo que os primeiros vão também desaparecer e os comentários passam a ser cabeçalhos no X.

Quem se atirou em fúria ao José, à Selma e a tantos outros, deveriam perceber que jornalismo é isso. É fazer as perguntas e obter a informação que nós nem imaginamos que existe. Para comentários descontextualizados já temos milhares de pessoas.

Um jornalista tem, efetivamente, que ir ao confronto quando uma mentira é dita e ao confronto quanto um qualquer entrevistado não responde à pergunta.

É certo que um entrevistado tem o direito de não responder, mas não tem o direito de responder a algo que nada tem a ver. Ou assume que não responde, ou responde à pergunta. Easy!

Estou, portanto, a gostar de ver esta mudança generalizada. Não sei se concertada com o que José Rodrigues dos Santos teve coragem de iniciar, ou se uma cópia posterior, mas a verdade é que todos ganhámos.

Precisamos destes jornalistas. Sem BONS jornalistas há democracia!

A vocês, jornalistas, a vida!

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Bernardo Mota Veiga

Bernardo Mota veigaStrategicist

*língua original deste artigo: Português

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