O Google Trends é uma ferramenta poderosíssima para aferir o interesse em temas de pesquisa na internet. Como seria de esperar, ao pesquisarmos o termo “eleições” e selecionarmos Portugal, vemos um pico nos últimos dias — reflexo natural da atenção gerada por este tema nas semanas recentes.
Mas o potencial do Google Trends vai muito além da política. Um amigo e membro de um pequeno grupo de investidores onde trocamos ideias, mostrou-me como esta ferramenta pode ser útil para avaliar o interesse em ações ou tecnologias. Desde então, raramente faço um investimento de curto prazo sem antes consultar as tendências do Google. Não por acaso, esse amigo é marketeer, habituado a medir o pulso do interesse dos consumidores, mas os investidores são meros consumidores de um determinado ativo, certo?
Quando pesquisamos o termo “bitcoin” no Google Trends, saltam à vista os picos de interesse que coincidem com os momentos em que a criptomoeda atinge máximos históricos. É um padrão claro: a performance da bitcoin, especialmente em fases de euforia, tende a refletir-se num aumento de pesquisas e atenção online desencadeando um certo élan em torno do tema e puxando pela volatilidade na cotação da bitcoin.
Surpreendentemente, isso não está a acontecer agora e desde que tenho acompanhado a bitcoin, é a primeira vez que isso acontece!
A bitcoin alcançou quarta-feira — e novamente esta quinta-feira — novos máximos históricos. No entanto, o Google Trends não mostra qualquer subida significativa no interesse dos utilizadores. Pelo contrário, o nível de pesquisas ao longo dos últimos cinco anos, tirando os tais “picos” momentâneos, desceu para valores próximos dos mínimos. Esta ausência de euforia digital torna esta minha análise amadora ainda mais intrigante.
Uma ação ou uma cripto que atinge máximos históricos costuma ser acompanhada por um frenesim online e quanto mais exótico for o título, maior será o frenesim. Hoje, essa euforia parece ausente. O que vemos, em vez disso, é uma subida hiperconsistente — mas quase silenciosa. Os pequenos investidores parecem ter perdido o entusiasmo, mas os grandes — os chamados “institucionais” — não estão a abrandar. Alguém está a comprar a bitcoin. O preço diz isso e os volumes dizem isso.
Será apenas o mercado a amadurecer?
Segundo o economista Alex Krüger, a diminuição da atenção pública pode ser interpretada como sinal de maturação do mercado. Em vez de “manias” momentâneas, a bitcoin pode estar a consolidar-se como ativo institucional, com menor dependência do sentimento de massas.
Outro ponto levantado por alguns analistas da CoinDesk e da Bloomberg Crypto é que o interesse visível no Google pode não refletir os novos canais onde a conversa sobre cripto realmente acontece — como Reddit, Telegram, Discord e fóruns especializados, longe dos olhos do grande público. Confesso que será a minha nova linha de análise mas são plataformas com as quais, à exceção do Reddit, não estou tão familiarizado.
Os ETFs de Bitcoin já aprovados nos EUA em 2024 estão também a canalizar volumes enormes para produtos regulados, o que pode estar a “institucionalizar” o interesse sem que ele passe pelos mecanismos tradicionais de busca.
A mudança de mãos silenciosa — ou estratégica?
Ainda assim, algo parece estar a mudar. O Google Trends é apenas mais uma pista de que a bitcoin está a passar das mãos dos pioneiros para as mãos de Wall Street — e talvez até de Washington. Muitos analistas defendem que a bitcoin pode funcionar como mecanismo de defesa do dólar e da dívida americana, ou até como ferramenta de estabilização financeira. Falei um pouco sobre isso num artigo anterior: “China e Trump: a guerra das tarifas foi só o início — ou o engodo. A verdadeira batalha pode vir a ser pelas bitcoins”.
Será que estamos a assistir à capitulação dos pequenos investidores, forçada pela ação calculada dos grandes? Os últimos dados das yields americanas derrubaram os mercados, empurrando o dólar para baixo. Mas a bitcoin resistiu. Manteve-se nos máximos, apesar da hecatombe nas bolsas, um sinal de força e de maturidade. Um sinal, talvez, de que já não é um ativo marginal. A correlação com o Nasdaq tem vindo a aumentar. O peso dos grandes está cada vez mais evidente.
Hoje, a Bitcoin está cotada a 111.000 dólares. E se os pequenos voltarem a mostrar interesse, não será de espantar uma nova onda de subidas ao retardador, talvez ainda mais acentuada do que a anterior.
Conclusão: atenção, não euforia
Este artigo não pretende incentivar a compra de bitcoins. Pretende incentivar a atenção informada, a recolha de dados, a análise técnica e fundamentada. Porque, neste momento, parece haver uma elite que sabe para onde vamos. E uma maioria que nem se apercebe de que já estamos em movimento.
Artigo de opinião publicado na CNN. Veja aqui
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