Este pode ser o seu único investimento sem risco — e com retorno garantido

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A maioria das pessoas não tem uma carreira — tem um emprego. Sem projeto pessoal, não há estabilidade, motivação nem margem para investir. E o primeiro investimento possível, mesmo sem dinheiro, é o tempo

Foram imensas as reações ao artigo “Ganhar bem já não basta…”, que naturalmente agradeço por confirmarem o meu espírito de contributo. Mas, entre os muitos likes, comentários e mensagens que recebi, há uma que me ficou na cabeça:

“Então se as pessoas não têm dinheiro nem para o seu dia a dia, quanto mais para investir?”

É uma pergunta mais do que legítima. Tão legítima que me faria corar se, pelo menos, não tentasse dar-lhe uma resposta. Repito: vou tentar. Este artigo não será técnico — será antes o reflexo do que vou aprendendo com a vida e com os meus próprios investimentos.

Em primeiro lugar, o mais importante na vida é mesmo cobrirmos as nossas necessidades. Passar fome para depois deixar uma fortuna debaixo do colchão não é solução. Mas também não é solução deslumbrarmo-nos com coisas não essenciais sem sequer precavermos um dia do futuro.

O equilíbrio é a fórmula.

Qual é então, para mim, o nosso melhor primeiro investimento?

A carreira profissional.

Pode parecer contraditório, depois de eu próprio ter escrito que não é possível ficar rico apenas com o salário. Mas sem uma carreira profissional, não teremos os alicerces para estabilizar as nossas receitas — sejam muitas ou poucas — e viver com alguma tranquilidade. A tranquilidade suficiente para iniciarmos outros processos de investimento.

Nunca se esqueça que todo o investimento comporta risco. Os preços das casas já caíram para metade antes de recuperarem para o dobro. As bolsas já colapsaram imensas vezes. A nossa carreira é o alicerce que se mantém robusto – se bem gerida – independentemente das intempéries e, mesmo que todos os nossos outros investimentos corram mal, é a carreira que nos dá perpetuidade na possibilidade de recomeçar.

Vejo muitas pessoas queixarem-se do salário, dos patrões, da vida… mas, quando lhes faço algumas perguntas, percebo que nunca investiram verdadeiramente na sua carreira. Já vi inclusive gente aborrecida por a empresa ter feito mais uma “ação de formação” que lhes vai ocupar mais tempo do que o normal.

Não interessa se estamos na restauração ou na programação, na jardinagem ou na gestão. Se investirmos na nossa carreira, temos sempre hipóteses de crescer ou, se necessário, de renascer.

Então porque é que muita gente olha para as criptos, para as bolsas, para o imobiliário, mas não investe em si? Porque a maioria não projeta uma carreira — conquista um emprego.

Ter uma carreira é ter um projeto. Ter um emprego é viver de circunstâncias. Andar de emprego em emprego sem projeto, é andar de circunstância em circunstância, à espera que o tempo nos faça cair uma maçã na cabeça para gritarmos “EUREKA!”.

Definir uma carreira é alinhar cada passo com um objetivo de longo prazo.

Quem constrói carreira, tenta. Quem escolhe empregos, sujeita-se. Parece tudo igual, mas não é. Um emprego perde-se, uma carreira nunca se perde!

Um estudo encomendado pelo LinkedIn mostra que 60% dos profissionais estão descontentes com os seus empregos. Este número é impressionante, sobretudo considerando que o LinkedIn é uma rede de profissionais qualificados.

Se estas pessoas estão descontentes, isso só pode querer dizer uma de duas coisas:

– ou investiram e perderam

– ou não investiram de todo

Por isso, a minha resposta à tal pergunta (“Como investir se nem para o dia a dia chega?”) é simples:

Invista em si. Porque investir em si é o investimento menos arriscado que pode fazer.

Se já é difícil criar riqueza, imagine fazê-lo a fazer algo que não gosta, ou num emprego que o deprime, ou que o distancia dos seus sonhos profissionais que na realidade são também pessoais.

O que recomendo — se é que me é permitido recomendar — é parar para pensar:

“O que é que eu quero ser? Quem é que eu quero ser?”

Esse é o início do primeiro projeto de investimento. Sem complicações, sem folhas de excel com mapas de custos, perdas, impostos, cash-flow, etc..

Se o seu objetivo é ser gerente de restaurante, então comece por ser o melhor seja lá onde começar, e comece onde a primeira oportunidade o colocar. Seja o melhor da cozinha, da sala, da esplanada, da receção, do que for. Seja o melhor e aprenda com quem sabe.

Um curso de gestão hoteleira custa uma fortuna. Se pode aprender de graça, observando os outros, isso já é um investimento valioso.

Em vez de criticar o colega, aprenda com os erros dele. Em vez de criticar o chefe, aprenda com ele o que não deve fazer. Isso é formação “on the job”. E um dia vai ser melhor do que eles porque ao que já sabe vai acrescentar o que eles sabem — e aí terá retorno.

Isto aplica-se a qualquer área nem que seja no lançamento de foguetões. E atenção: não digo que deva ser passivo. Pelo contrário. Aprenda para depois executar. Se não for ali, será noutro lugar. E se não lhe derem valor ali, confie que lho darão noutro lugar. Confie no seu plano. Os bons acabam sempre por ser descobertos.

Se ninguém vem até si, talvez ainda não seja tão bom quanto pensa. Agarre numa boa dose de humildade antes de achar que o mundo não o entende e, invista mais.

Muita gente acha que investir é pôr dinheiro num vaso e esperar uma árvore de patacas. Mas não.

Por isso quando me perguntam como investir sem ter dinheiro eu costumo dizer que ainda não está na fase de investir dinheiro…

A resposta é, portanto: invista o seu tempo. Aprenda.

Se em algum momento conseguiu juntar algum dinheiro, antes de pensar no telefone, ações, ou eletrodoméstico que vai comprar, pense no conhecimento que lhe falta e compre conhecimento.

Se eu fosse contar as horas que já dediquei a ajudar os outros — em ideias, negócios, apresentações, planos, artigos — somava meses de vida. Mas, para mim, isso não é tempo perdido. É tempo ganho e, em bom rigor, dinheiro ganho.

Porque, muitas vezes, ao ajudar os outros, estamos também a valorizar-nos.

Quando ajudo alguém a construir um plano para uma empresa de vinhos, posso estar a partilhar conhecimentos em estratégia que é algo que mais ou menos domino. Mas em troca, recebo conhecimentos sobre vinhos, sem pagar por isso.

O bom do conhecimento é que quando o damos, não ficamos sem ele. Neste caso dei conhecimento — e continuei com ele e fiquei a valer mais depois do que antes.

Investi com o que sabia. Saí com mais do que levei.

Fazer um plano de carreira é essencial para alcançar a estabilidade necessária ao que é básico — e depois construir riqueza.

Se 60% das pessoas estão insatisfeitas, talvez seja altura delas repensarem o seu plano.

Claro que há exceções. Alguém pode estar insatisfeito mas manter-se no emprego por razões válidas: salário, tempo, família, saúde. Os tais intangíveis porque nem tudo é dinheiro.

Estes estudos são frágeis porque uma resposta como “não gosto do meu emprego” pode esconder muitas razões para lá continuar, e muitas delas podem ser muito válidas e muito inteligentes.

O problema está em acomodar-se e deixar os anos passar sem um projeto, mantendo-se num emprego onde sente que não deveria estar.

Quem investe nos mercados sabe: primeiro define-se a estratégia. Depois aplica-se a tática.

Por isso, sem hesitação: esta é a minha primeira recomendação em literacia financeira.

Invista em si. Invista tempo. E, se puder, também dinheiro.

Invista no seu projeto de carreira antes de pensar em casas, carros ou mesmo empregos. Sempre que puder aprender, aprenda.

Bem sei que esperaria encontrar neste artigo um pacote de dicas complexas de onde investir para ficar rico em três tempos, mas, acredite, só deve colocar nas mãos dos outros aquilo que os outros possam fazer melhor que você. Procure o seu potencial antes de acreditar cegamente no potencial dos outros e lembre-se. Isto também é literacia financeira.

Um curso de mercados financeiros custa uma fortuna — se alguém lhe ensina de graça, aproveite.

Um bom colega de mesa pode valer mais que um curso.

Um MBA custa dezenas de milhares de euros — se o seu chefe tem um, aprenda com ele.

Aprenda com os maus. Copie os bons.

Só aí estará a fazer o investimento sem qualquer risco, e com o maior retorno possível:

em si mesmo.

Artigo de opinião publicado na CNN Portugal. Veja aqui

Para uma Inteligência Artificial melhor, Partilha.

Bernardo Mota Veiga

Bernardo Mota veigaStrategicist

*língua original deste artigo: Português

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