No fundo, nem sequer é fácil sabermos se fizemos uma determinada escolha porque a queríamos verdadeiramente ou se a fizemos com base no medo de perder todas as alternativas que não escolhemos.
Diversificar os nossos investimentos é uma forma de reduzir o risco de perda ou de reduzir o risco de não termos escolhido a melhor? Ou seja, se escolhermos todos os cavalos de uma corrida, temos a certeza de que vamos sempre ganhar, mas num mercado onde existem milhares de ações, haverá assim tanta diferença entre escolher 20 ou uma só?
Imagine que decide investir criando uma empresa própria. Também vai criar mais 20 empresas para diversificar o risco? Ou será que vai simplesmente manter o foco numa única empresa que quer ver crescer, multiplicar-se, reproduzir-se e, quem sabe, um dia morrer? É melhor abrir um café ou ter 5% em 20 cafés que já existam?
Nunca ouviu ninguém referir-se ao mercado de valores como sendo um casino? Eu já, e se calhar só há pouco tempo é que comecei a concordar. Para muitos, é mesmo um casino. Asseguro que, olhando para trás, para mim os mercados já foram um verdadeiro casino. Andei anos a comprar ações de dezenas de empresas das quais concluo que só conhecia o nome.
Ora, se achamos que o mercado de valores é um casino, então o mercado das criptos deve ser mais parecido com aquele jogo de rua do copo e das bola em que um individuo atrás da bancada baralha e cada um segue atentamente as voltas, apostando o que quiser no copo onde acha que está a bola. O casino, como local de sorte ou azar, é, pelo menos, um local regulado. O jogo do copo é desregulado, já para não dizer viciado.
Este artigo pretende efetivamente partilhar as minhas conclusões ao fim de anos a investir. Já Warren Buffet o dizia: “Nunca investir em algo que não se entenda”. É o que eu tento seguir quase religiosamente!
Quando investimos o nosso dinheiro na nossa empresa, ponderamos, analisamos e avançamos tendo como premissas:
- saber o que sabemos;
- saber o que não sabemos;
- balizar o que não sabemos que não sabemos.
Com estas três premissas, estamos em condições de avançar. As primeiras duas dão-nos a visão da oportunidade e a terceira dá-nos a indicação do risco.
Na bolsa e nas criptos o que mais vejo são investidores que “sabem o que sabem” mas que “não sabem o que não sabem” e que não balizam o que “não sabem que não sabem”. E, quando assim é, qual é de facto a melhor forma de mitigar estas duas falhas? Diversificar!
Quando na roleta quero mitigar o meu risco aposto no vermelho em vez de apostar no 27, porque assim ganho menos se sair o 27 mas sempre ganho alguma coisa se sair um qualquer dos outros números vermelhos.
Agora imagine que apenas pode investir numa única empresa ou cripto e não em 20 (refiro-me a 20 como o número mínimo para garantir que não tenho mais do que 5% em cada uma). O que faz?
- Opção A) Segue uma dica de alguém em quem confia
- Opção B) Não investe porque não quer colocar todos os ovos no mesmo cesto
- Opção C) Analisa uma série delas como se fossem a sua própria start up e só então investe
Cada opção depende obviamente da literacia de cada um e da capacidade de analisar empresas. A opção A será portanto válida para quem não tenha esse conhecimento, delegando a alguém em quem confia mas sempre correndo o risco de escolher alguém errado.
A Opção B reflete precisamente aquilo que eu referia quanto à linha ténue entre investimento e “casinada”. É que quem não entende onde está a investir, está na realidade a atirar dardos de olhos fechados, mas em vez de atirar um só, atira 20 e faz a média do que conseguiu com esses 20 dardos. Estatisticamente, é de facto difícil errar todos!
A opção C é a que eu entendi como a mais adequada para mim. Estudar a fundo as empresas e só depois avançar.
Depois de analisarmos uma empresa – o que ela faz, quanto deve, quem são os acionistas, o que fez no passado, o que se propõe a fazer no futuro, quem é a equipa de gestão, quem são os concorrentes, o que estão a fazer os concorrentes, causas em tribunal, riscos reputacionais, número de trabalhadores, etc… -, acabamos por tornar essa empresa como se fosse nossa e confiarmos no investimento que estamos a fazer. Aplica-se o mesmo no mercado das criptos, porque cada cripto tem por trás um projeto que convém aferir. Quem tivesse feito este trabalho de casa talvez não tivesse investido na Terraform ou na FTX!
Nas minhas análises, chego a procurar relatórios de satisfação dos colaboradores para ter uma noção do ambiente que se vive na empresa.
Quando fazemos todo este trabalho, estamos a aumentar o que sabemos e a ter a certeza do que não sabemos porque podemos não ter mesmo como saber, mas ao mesmo tempo estamos a colocar numa esfera muito pequena o que não sabemos que não sabemos (ou seja, o risco).
Desde que decidi que não iria investir nunca mais em algo que não conhecesse ao detalhe, não tenho estado investido em mais do que três empresas ao mesmo tempo (quase sempre duas).
Tenho debatido o tema com alguns amigos que investem (até de forma mais consistente do que eu) e quase sempre a minha tática é tida como “louca”. Como tal, não recomendo a ninguém, mas é de facto a que me faz sentir mais confortável.
Não consigo que me convençam de que é possível acompanhar 20 empresas ao mesmo tempo da forma como eu acho que devem ser acompanhadas. Duas já representa muitas horas noturnas, quanto mais 20!
Estou certo de que conheço mais das empresas onde invisto do que 80% dos trabalhadores que lá trabalham e, como tal, hoje invisto facilmente colocando os ovos numa ou duas cestas.
Portanto como diz Buffet, só devemos investir no que conhecemos e entendemos, caso contrário, seja em 20 ou em 2, o melhor é mesmo ficar de fora!
Artigo de opinião publicado na CNN, veja aqui
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