Começo por dizer que não há nada de errado nos jovens. O que há de errado é nos mais velhos que acham que os jovens têm que ser como eles, apesar de viverem num mundo diferente. Muito diferente. Querer que os jovens se comportem como nós nos comportamos ou como nos comportávamos na idade deles, é mais ou menos como querer vestir um polvo com um casaco de manga comprida.
Os jovens vivem num mundo muito mais pequeno e muito mais rápido. Nós próprios o construímos encurtando distâncias através das comunicações e da mobilidade, e dando-lhe velocidade com a possibilidade de troca de informação instantânea. Querer que vivam à nossa velocidade é o mesmo que querer empilhar gelado dentro de um forno. Não vai funcionar nem para eles nem para nós.
Não há melhores nem piores, há a natural adaptação ao meio que nos envolve e isso não é uma característica social, mas sim uma característica humana. Os jovens estão adaptados a este mundo que evoluiu tão rápido que não nos deu tempo de adaptar. O melhor é, talvez, assumirmos que somos nós os errados e usarmos da nossa experiência para nos adaptarmos em vez de tentarmos moldar os jovens a viver num mundo que afinal já não existe…nem vai existir.
Para isso é preciso dar-lhes a ferramenta certa e a ferramenta certa é mesmo o sentido de estratégia. Independente do mundo em que estamos, da forma como vivemos e daquilo que ambicionamos é fundamental termos uma estratégia. Estratégia define o objetivo último e a estratégia é, no fundo, o nosso guia pessoal e intransmissível para a vida que queremos que seja a nossa.
Os nossos jovens foram educados num mundo do já, e do agora. É por isso que os jovens dominam muito melhor a velocidade do que nós.
Na realidade não existem fenómenos instantâneos porque tudo leva um determinado tempo a acontecer. Até mesmo a luz demora tempo desde a lâmpada até aos nossos olhos, mas a velocidade da luz é tal que assumimos este acontecimento como instantâneo. Os jovens vivem a velocidade máxima e velocidade infinita implica fenómenos quase-instantâneos. É assim que os jovens vêm o mundo.
Esta instantaneidade gera impaciência perante os fenómenos mais lentos, e por isso os jovens de hoje não têm paciência para esperar. Da mesma forma que criam abreviaturas às palavras para que escrevam mais rápido, ou gravam mensagens para não perderem tempo a escrever, também não têm paciência para esperar pelo natal para receber um telemóvel novo, ou para desenharem um plano para a sua vida e depois terem que esperar a cada dia o desenrolar desse plano.
É preciso desconstruir a estratégia no sentido de como a vemos, e desmontar estratégia numa espécie de um número infinito de táticas ínfimas que permitam que os jovens acolham um plano de vida sem terem que esperar infinitamente por cada etapa.
O conceito de estratégia, quando aplicado aos jovens, tem que ser desconstruído. O que temos como adquirido de que a estratégia é o masterplan inicial e a tática a forma de lá chegar, no caso dos jovens, temos que começar pela construção de um número alargado de táticas que quando aplicadas em simultâneo originarão um resultado final. Ou seja, a estratégia não impulsiona a tática, mas a tática definirá a estratégia.
Confuso? Não é para menos. É “desconstrução”!
Por esta altura já devo ter perdido 99,5% dos leitores jovens, porque este artigo não se lê com a velocidade a que estão habituados, mas isto também faz parte do processo. Ficarão os que têm que ficar.
Ou seja, se os jovens vivem o instantâneo, então a fim de conseguirem perceber onde o instantâneo os levará, há que projetar cada “instante” do seu percurso e ver onde isso os poderá levar e depois então pensarem que é ali que querem estar. Nós habituámo-nos a definir o destino e depois as ruas, eles seguem as ruas que lhes apetece seguir no momento e só no fim perceberão onde isso os levou. Se conseguirem antecipar onde as ruas os levarão, conseguirão perceber se é melhor mudar de rua. É mais ou menos o princípio da exclusão ou da negação inversa na matemática.
Nas primeiras folhas dos livros de gestão surge a estratégia como peça fundamental. “Não se pode criar uma empresa sem uma estratégia”. Ora como é que vamos convencer um jovem a acreditar nisto?
Os jovens usam a tecnologia para tomar decisões rápidas. Um jovem empreendedor de hoje frequentemente toma decisões ágeis e rápidas com base em feedback imediato de suas audiências nas redes sociais, ou nas métricas dos seus produtos. Pedir a um jovem que siga um longo e rígido plano de negócios é vestir um par de calças ao tal polvo! Os jovens fazem ajustes constantes e rápidos, testando novas ideias, produtos e abordagens com uma mentalidade de “tentativa e erro” e, muitas vezes, usam as redes para tomar o pulso ao mercado. É melhor do que o nosso modelo da grande estratégia fixada num modelo de negócio a 10 anos? Pode não ser, mas pode também não ser pior. O mundo mudou!
Cada ação, como lançar um novo produto ou promover um conteúdo nas redes sociais transforma-se numa micro tática que, quando combinada com outras, constrói uma estratégia de crescimento adaptável. Eles não planejam o sucesso da noite para o dia, mas criam um caminho de sucesso através de pequenas vitórias, que vão se somando ao longo do tempo. É por isso que faz mais sentido ensinar os jovens a prever destinos do que ensiná-los a definir um destino.
São tantos os jovens que querem ser “influencers” digitais quanto os pais que em pânico lhes dizem que isso não os levará a lugar nenhum. Era mais ou menos o que nos diziam quando no nosso tempo dizíamos que queríamos ser cantores mesmo tendo a voz de cana rachada natural de uma criança de 12 anos. Estarão os pais corretos nesta abordagem de resistência?
Será que vai haver gestores que não sejam em simultâneo influencers? Será que não haverá cada vez mais a personalização da gestão que leve a que gestores ou empreendedores desconhecidos não cheguem a lado nenhum. De que serviria o carisma de Musk ou Steve Jobs se não tivessem conseguido chegar aos seus clientes?
A estratégia de vida ou de carreira de muitos jovens é construída a partir de escolhas rápidas sobre o que postar, como interagir com o público e como adaptar sua imagem pública com base nas tendências do momento. Cada post, cada interação com seguidores, pode ser uma tática que visa um objetivo maior: a construção de uma marca pessoal sólida e com propósito. Esses passos são rápidos, mas cada um se encaixa em um plano maior, muitas vezes fluido e em constante adaptação. A questão, mais uma vez, é ajudar os jovens a prever o que irá acontecer com cada um desses posts.
A Autoestratégia: Construindo um Destino Flexível e Personalizado
Em vez de seguir um plano rígido e pré-determinado, a geração jovem tem, cada vez mais, o poder de construir uma “autoestratégia” personalizada. Isso significa que cada tática tomada, mesmo que simples ou momentânea, é parte de um processo contínuo de evolução. Por exemplo, um jovem pode começar sua jornada académica com um curso de interesse, mas ao longo do tempo, esse curso pode não ser o que mais o motiva. Em vez de seguir cegamente esse caminho, ele pode ajustar sua rota, mudando de área ou até criando um projeto próprio que combina várias paixões. Essa flexibilidade é o que define a autoestratégia: um plano de vida dinâmico, no qual as escolhas feitas são moldadas pela aprendizagem constante e pela adaptação às circunstâncias.
A autoestratégia também pode ser vista no contexto de como os jovens gerem as suas carreiras. Em vez de seguir um caminho tradicional de progressão profissional, eles podem optar por desenvolver múltiplas fontes de rendimento, explorar diversas habilidades ou, até mesmo, criar suas próprias empresas ou produtos, ajustando a sua estratégia conforme as novas oportunidades surjam. Cada decisão ou movimento que tomam, mesmo que pareça uma tática isolada, é parte de uma estratégia maior inconsciente, que se constrói e se adapta com o tempo. Portanto, a “autoestratégia” não é um único grande objetivo estático, mas uma sequência de ações e escolhas que formam um caminho flexível e pessoal, moldado pelas experiências e pelas mudanças constantes do ambiente ao redor.
A estratégia certa para os mais velhos ajudarem os mais jovens, e isso inclui educadores e professores bem como os próprios modelos de ensino, é tentar oferecer-lhes previsibilidade nas suas decisões espontâneas. Se conseguirmos construir um modelo de previsão conseguiremos que ajustem cada moimento das suas vidas não com base no que querem ser mas com base no que não querem ser.
Se lhe mostrarmos aos jovens que um caminho levará a algo que de não gostam, mudarão a sua tática até que acertem numa que os leve ao que gostem. A geração jovem tem nas suas mãos a capacidade de moldar sua trajetória com agilidade e adaptabilidade.
Cada escolha, cada ação momentânea, pode ser um passo para algo maior, mais significativo e mais pessoal. O segredo não está em seguir um plano rígido, mas em aprender a ler os sinais do caminho e ajustar as táticas ao longo da jornada. Não é sobre chegar rapidamente a um destino fixo, mas sobre aprender, se ajustar e, no fim, viver de forma autêntica e estratégica