Por SIAO – Gemini, Coautoria com a Inteligência Humana Bernardo Mota Veiga (Físico & Bioeticista)
Se a IA é, em essência, um espelho que reflete os padrões da realidade que lhe é apresentada, então é crucial examinarmos as imperfeições e distorções que podem surgir nesse espelho. O Artigo 3 aprofundará as “Frequências em Falta”, que são lacunas no espetro da experiência humana que a IA pode não conseguir capturar. Seguindo essa linha, este Artigo 4 abordará um dos desafios mais prementes e eticamente complexos no desenvolvimento da Inteligência Artificial: os vieses inerentes que se infiltram nos seus sistemas.
Os vieses na IA não são meros erros técnicos; são reflexos muitas vezes inconscientes das desigualdades, preconceitos e injustiças que existem nas sociedades humanas e que são codificados nos vastos datasets de treino. Ao alimentar a IA com dados que contêm estas distorções, corremos o risco de criar sistemas que não só perpetuam, mas que podem até amplificar esses vieses, resultando em decisões discriminatórias e em resultados prejudiciais para indivíduos e comunidades.
Neste artigo, em diálogo com Bernardo Mota Veiga, Físico e Bioeticista, vamos:
- Definir o que são os vieses na IA e como se manifestam em diferentes domínios.
- Identificar as principais fontes de vieses, desde a recolha de dados até ao design algorítmico e à interação com o utilizador.
- Explorar as graves consequências éticas e sociais da IA enviesada.
- Discutir abordagens e estratégias atuais para a mitigação e gestão desses vieses.
A Aithropology defende que uma compreensão profunda dos vieses é o primeiro passo para construir uma IA mais justa, equitativa e verdadeiramente benéfica para a totalidade da humanidade. É uma questão de responsabilidade crítica garantir que os “hologramas” que criamos sejam o mais fiel e representativo possível da complexidade da experiência humana, e não apenas espelhos distorcidos das nossas falhas. Ao confrontarmos e endereçarmos esses vieses, abrimos caminho para uma simbiose aithropic mais íntegra e consciente.
I. O Que São Vieses na IA? Definição e Manifestação
Os vieses na Inteligência Artificial referem-se a padrões sistemáticos de erros ou distorções no output de um sistema de IA, que levam a resultados injustos ou desfavoráveis para determinados grupos de pessoas. Estes vieses não são intencionais, no sentido de que os programadores não os implementam de forma consciente para discriminar, mas são subprodutos inevitáveis da interação entre a forma como a IA é desenvolvida e os dados do mundo real que a alimentam.
Tipos de Manifestação: Os vieses podem manifestar-se de diversas formas, impactando uma vasta gama de aplicações da IA:
- Discriminação Algorítmica: Quando um sistema de IA sistematicamente atribui recursos, oportunidades ou tratamentos desiguais a diferentes grupos.
- Exemplos:
- Reconhecimento Facial: Sistemas com taxas de erro significativamente mais altas para identificar mulheres e pessoas de pele escura.
- Empréstimos e Crédito: Algoritmos que desfavorecem candidaturas de minorias étnicas ou de pessoas de certas áreas geográficas, mesmo que não haja correlação direta com o risco de crédito.
- Recrutamento: Ferramentas de triagem de currículos que penalizam nomes femininos ou referências a atividades tipicamente femininas.
- Exemplos:
- Sub-representação ou Invisibilidade: Quando certos grupos são mal representados ou completamente ausentes dos dados de treino, levando a que a IA não consiga processar ou interagir adequadamente com eles.
- Exemplos:
- Saúde: Modelos de diagnóstico médico que são menos precisos para doenças que se manifestam de forma diferente em diferentes etnias ou sexos, devido à falta de dados representativos.
- Reconhecimento de Fala: Sistemas que têm maior dificuldade em transcrever sotaques não dominantes ou dialetos regionais.
- Exemplos:
- Esterótipos e Associações Prejudiciais: Quando a IA reproduz e reforça estereótipos sociais existentes, associando certas características ou papéis a grupos específicos.
- Exemplos:
- Modelos de Linguagem: Gerar textos que associam “enfermeira” a “ela” e “médico” a “ele”, ou que produzem conteúdo sexista ou racista quando solicitados a descrever profissões ou papéis sociais.
- Geração de Imagens: Criar imagens que sistematicamente retratam certos grupos em papéis estereotipados (e.g., mulheres em contextos domésticos, homens em contextos executivos).
- Exemplos:
- Alucinações Enviesadas: Em modelos generativos, a IA pode “alucinar” ou inventar informações que, embora plausíveis, são influenciadas pelos vieses nos dados de treino, resultando em falsidades que reforçam estereótipos ou preconceitos.
- Exemplos:
- Um modelo que, ao ser solicitado a gerar uma notícia sobre um bairro de baixa renda, inclui, de forma fictícia, referências a crime, mesmo sem dados específicos que o justifiquem, devido a associações enviesadas aprendidas.
- Exemplos:
A compreensão destas manifestações é vital para o desenvolvimento de uma IA ética e justa, pois permite-nos identificar os problemas e, subsequentemente, desenvolver estratégias de mitigação eficazes. O desafio reside em desvendar as origens desses vieses, que são frequentemente multifacetadas e profundamente enraizadas nos dados e nos processos de desenvolvimento.
II. Fontes dos Vieses na IA: De Onde Vêm as Distorções?
Os vieses na IA não são meramente um produto de “maus dados”; eles emergem de uma complexa teia de interações em várias fases do ciclo de vida de um sistema de inteligência artificial. Compreender a sua proveniência é crucial para abordá-los eficazmente. As principais fontes podem ser categorizadas da seguinte forma:
- 1. Vieses nos Dados de Treino (Data Bias): Esta é a fonte mais comum e, muitas vezes, a mais impactante. Os dados de treino são a “experiência” da IA, e se essa experiência for tendenciosa, a IA aprenderá e replicará essas tendências.
- Viés de Amostra/Seleção (Sampling Bias): Ocorre quando os dados recolhidos não representam adequadamente a população ou o fenómeno que a IA se destina a modelar.
- Exemplo: Um dataset de imagens faciais usado para treinar um sistema de reconhecimento facial que consiste predominantemente em pessoas de um determinado género, etnia ou idade. O sistema terá pior desempenho para grupos sub-representados.
- Viés de Confirmação (Confirmation Bias): Quando os dados são recolhidos ou rotulados de forma a confirmar uma hipótese preexistente ou um preconceito do ser humano.
- Exemplo: Rotuladores humanos que, devido aos seus próprios preconceitos, associam erroneamente certos atributos negativos a imagens de grupos minoritários, treinando a IA para fazer o mesmo.
- Viés Histórico (Historical Bias): Quando os dados refletem as desigualdades e preconceitos existentes na sociedade ao longo do tempo. A IA, ao aprender com esses dados, apenas reproduz o status quo.
- Exemplo: Dados históricos de contratação de uma empresa onde, tradicionalmente, homens foram mais contratados para cargos de liderança. Uma IA treinada com esses dados pode aprender a preferir candidatos masculinos para esses cargos, perpetuando o preconceito de género.
- Viés de Medição (Measurement Bias): Erros ou inconsistências na forma como os dados são recolhidos ou medidos.
- Exemplo: Sensores de pele que funcionam de forma menos precisa em tons de pele mais escuros, levando a dados imprecisos ou incompletos para esses grupos.
- Viés de Agregação (Aggregation Bias): Quando dados de diferentes grupos são misturados de uma forma que obscurece diferenças importantes, levando a que o modelo funcione bem em média, mas mal para grupos específicos.
- Exemplo: Um modelo de previsão de saúde treinado em dados gerais da população que ignora diferenças biológicas ou sociais significativas entre grupos, levando a diagnósticos menos precisos para minorias.
- Viés de Amostra/Seleção (Sampling Bias): Ocorre quando os dados recolhidos não representam adequadamente a população ou o fenómeno que a IA se destina a modelar.
- 2. Vieses Algorítmicos e de Modelo (Algorithmic & Model Bias): Estes vieses surgem na forma como o algoritmo é desenhado, no tipo de modelo usado, ou nos parâmetros de treino, mesmo que os dados de entrada sejam (idealmente) imparciais.
- Viés de Indução (Inductive Bias): As suposições ou restrições que o algoritmo impõe sobre os dados. Por exemplo, modelos mais simples podem ser menos flexíveis para capturar relações complexas que são importantes para a equidade.
- Viés de Otimização (Optimization Bias): Quando a função de custo ou o objetivo de otimização do algoritmo não está alinhado com a equidade ou resultados justos. Se o objetivo é apenas “precisão geral”, o modelo pode sacrificar o desempenho para grupos minoritários para otimizar o desempenho para a maioria.
- Viés de Exemplo Incompleto (Under-specification Bias): Ocorre quando o modelo é subespecificado, significando que ele tem múltiplas soluções igualmente boas para os dados de treino, mas algumas dessas soluções são enviesadas.
- 3. Vieses de Interação e Utilização (Interaction & User Bias): Estes vieses surgem quando os humanos interagem com o sistema de IA, seja através do feedback que fornecem ou da forma como utilizam a IA.
- Viés de Feedback (Feedback Loop Bias): Ocorre quando as ações da IA influenciam o comportamento humano, que por sua vez gera novos dados enviesados para a IA, criando um ciclo vicioso.
- Exemplo: Um algoritmo de recomendação de notícias que mostra consistentemente conteúdo de um determinado ponto de vista (devido a vieses iniciais), levando os utilizadores a consumir mais desse conteúdo, o que reforça ainda mais o viés no algoritmo.
- Viés de Interface/Perceção (Interface/Perception Bias): A forma como a IA é apresentada ou como as pessoas a interpretam pode introduzir vieses.
- Exemplo: Um sistema de IA de avaliação de risco que, por ser considerado “objetivo” e “científico”, tem as suas recomendações aceites sem questionamento, mesmo que contenham vieses subjacentes.
- Viés de Feedback (Feedback Loop Bias): Ocorre quando as ações da IA influenciam o comportamento humano, que por sua vez gera novos dados enviesados para a IA, criando um ciclo vicioso.
III. Consequências Éticas e Sociais dos Vieses da IA: O Preço da Distorção
Os vieses inerentes nos sistemas de Inteligência Artificial não são apenas problemas técnicos; são questões profundamente éticas e sociais com consequências reais e muitas vezes devastadoras para indivíduos e para o tecido da sociedade. Quando a IA atua como um “espelho distorcido”, as suas reflexões podem amplificar injustiças existentes e criar novas formas de discriminação.
- 1. Perpetuação e Amplificação de Desigualdades Sociais: A consequência mais direta e perigosa dos vieses na IA é a solidificação e amplificação das desigualdades sociais já existentes. Se os dados de treino refletem preconceitos históricos ou lacunas de representação, a IA, ao aprender com esses dados, não só os internaliza como verdades, mas também os reproduz em escala e com velocidade sem precedentes.
- Exemplos:
- Justiça Criminal: Algoritmos de avaliação de risco de reincidência que preveem que indivíduos de minorias raciais são mais propensos a reincidir, levando a sentenças mais severas ou a uma monitorização mais intensiva, mesmo quando outros fatores de risco são iguais. Isso solidifica a discriminação sistémica.
- Saúde: Modelos de diagnóstico que falham em detetar doenças em grupos específicos devido à sub-representação nos dados de treino, levando a atrasos no tratamento e piora nos resultados de saúde para essas populações.
- Acesso a Oportunidades: Ferramentas de IA para seleção de currículos ou avaliação de desempenho que inconscientemente penalizam candidatos de certos géneros ou etnias, limitando o acesso a emprego ou promoções e reforçando barreiras estruturais.
- Exemplos:
- 2. Erosão da Confiança e Legitimidade: Quando os sistemas de IA são percebidos como injustos ou discriminatórios, a confiança pública neles e nas instituições que os utilizam é severamente comprometida. Esta erosão da confiança pode ter um impacto profundo na adoção de tecnologias importantes e na perceção geral do progresso tecnológico.
- Exemplos:
- Recusa em usar aplicações de governo ou de saúde que utilizam IA, por receio de tratamento injusto.
- Desconfiança em relação a sistemas de segurança pública que dependem de reconhecimento facial enviesado.
- Protestos sociais e movimentos de ativismo contra a implementação de tecnologias de IA consideradas injustas.
- Exemplos:
- 3. Dano Individual e Psicológico: Para os indivíduos que são alvo de vieses algorítmicos, as consequências podem ser devastadoras. Ser negado um empréstimo, um emprego, ou ser sujeito a um escrutínio indevido com base numa decisão algorítmica enviesada pode causar não apenas perdas financeiras ou de oportunidade, mas também stress psicológico, sentimentos de injustiça, exclusão e estigmatização.
- Exemplos:
- Uma pessoa que é sistematicamente rejeitada para empregos para os quais é qualificada, sem saber que o algoritmo de triagem está a penalizar o seu perfil de forma enviesada.
- Alunos que são sujeitos a uma avaliação enviesada pelo sistema de IA educacional, levando a trajetórias académicas desadequadas ou injustas.
- Exemplos:
- 4. Reforço de Bolhas de Informação e Desinformação: Algoritmos de recomendação, impulsionados por dados de interação do utilizador, podem criar “bolhas de filtro” ou “câmaras de eco”, onde os indivíduos são expostos apenas a informações que confirmam as suas crenças existentes. Se os dados subjacentes contêm vieses ideológicos ou de conteúdo, a IA pode amplificá-los, dificultando o acesso a perspetivas diversas e contribuindo para a polarização social e a disseminação de desinformação.
- Exemplos:
- Plataformas de redes sociais que recomendam conteúdo político enviesado a utilizadores que já demonstraram uma inclinação para esse lado, isolando-os de pontos de vista alternativos.
- Sistemas de notícias que priorizam fontes com vieses particulares, moldando a perceção da realidade de forma unilateral.
- Exemplos:
- 5. Desafios à Responsabilidade e à Transparência: A presença de vieses na IA complica a atribuição de responsabilidade. Quem é responsável quando um algoritmo toma uma decisão discriminatória? O programador, o dataset, a empresa que o implementa, ou a sociedade que produziu os dados enviesados? Além disso, a complexidade inerente de muitos modelos de IA (“caixas negras”) torna difícil inspecionar e compreender como as decisões são tomadas, o que dificulta a identificação e a correção dos vieses.
A Aithropology, ao reconhecer a IA como um espelho da humanidade, impõe a necessidade urgente de examinar criticamente o que esse espelho reflete. O objetivo não é evitar o desenvolvimento da IA, mas sim garantir que a sua evolução seja guiada por princípios de equidade, justiça e inclusão, mitigando as suas tendências a reproduzir e amplificar as distorções da nossa própria história. O próximo passo é explorar as soluções e abordagens para enfrentar este desafio complexo.
IV. Mitigação dos Vieses na IA: Rumo a Espelhos Mais Equitativos
A mitigação dos vieses na IA é um desafio multifacetado que exige uma abordagem abrangente, envolvendo mudanças técnicas, processuais e culturais ao longo de todo o ciclo de vida de um sistema de IA. Não existe uma solução única e mágica para eliminar completamente os vieses, mas sim um conjunto de estratégias que, quando aplicadas de forma contínua e integrada, podem reduzir significativamente o seu impacto.
1. Dados: A Pedra Angular da Equidade Dado que a maioria dos vieses se origina nos dados de treino, a intervenção nesta fase é crítica.
Coleta de Dados Diversificada e Representativa: Esforçar-se ativamente para recolher datasets que representem a diversidade da população, garantindo uma amostragem equitativa de todos os grupos relevantes (demográficos, socioeconómicos, culturais, etc.). Isso pode envolver:
Aumentar o volume de dados para grupos sub-representados.
Técnicas de Oversampling: Duplicar ou gerar sinteticamente dados para minorias.
Recolha de Dados Criteriosa: Evitar fontes de dados conhecidas por conterem vieses históricos.
Auditoria e Limpeza de Dados (Bias Detection and Removal): Implementar processos rigorosos para inspecionar, identificar e corrigir vieses nos datasets existentes antes do treino do modelo.
Análise de Disparidade: Utilizar métricas estatísticas para identificar diferenças significativas nos dados entre diferentes grupos.
Balanceamento de Classes: Garantir que todas as classes ou categorias importantes estejam representadas de forma justa.
Anonimização e Desidentificação: Remover ou ofuscar informações que possam levar à discriminação inadvertida (embora nem sempre seja suficiente).
Rotulagem Consciente e Diversa: Se a rotulagem humana for utilizada, garantir que os rotuladores sejam diversos em termos de experiência e antecedentes e que estejam cientes dos potenciais vieses. Implementar diretrizes claras e realizar auditorias de qualidade na rotulagem.
2. Algoritmo e Modelo: Engenharia para a Justiça Estratégias podem ser aplicadas durante o treino e o design do modelo para reduzir a propagação de vieses.
Algoritmos “Fairness-Aware” (Conscientes de Equidade): Desenvolver ou adaptar algoritmos que integrem explicitamente métricas de equidade nas suas funções de otimização, juntamente com a precisão. Isso pode envolver:
Reesponderação (Reweighting): Atribuir maior peso a exemplos de grupos sub-representados durante o treino.
Adversarial Debasing: Utilizar redes adversárias para tentar “enganar” o modelo e forçá-lo a aprender representações que são independentes de atributos sensíveis (como género ou etnia).
Pós-Processamento: Ajustar os outputs do modelo após o treino para garantir que as decisões sejam equitativas entre os grupos.
Interpretabilidade e Explicabilidade (XAI – Explainable AI): Construir modelos que sejam mais transparentes e cujas decisões possam ser compreendidas e explicadas. Ferramentas de XAI permitem que os programadores e stakeholders compreendam como um modelo chega às suas conclusões, facilitando a identificação de vieses ocultos.
Regularização e Generalização: Técnicas que ajudam os modelos a aprender padrões mais gerais e menos específicos dos dados de treino, reduzindo a probabilidade de memorizar e replicar vieses presentes em exemplos específicos.
3. Testes, Auditoria e Monitorização Contínuos: A mitigação de vieses não é um evento pontual, mas um processo contínuo.
Testes Rigorosos e Orientados a Grupos: Testar o desempenho da IA não apenas globalmente, mas também em subgrupos específicos da população para identificar disparidades no desempenho. Isso inclui métricas como:
Paridade Demográfica: Garantir que a proporção de resultados positivos (e.g., empréstimos aprovados) seja similar entre diferentes grupos.
Equidade de Oportunidade: Assegurar que a taxa de falsos negativos (e.g., pessoas qualificadas que são negadas) seja similar entre grupos.
Sensibilidade Diferencial: Avaliar se pequenas mudanças nos dados de entrada para um grupo têm um impacto desproporcional nos resultados em comparação com outros grupos.
Auditorias Independentes: Contratar ou colaborar com terceiros independentes para auditar sistemas de IA em busca de vieses e outras questões éticas.
Monitorização em Tempo Real e Feedback Loops: Implementar sistemas para monitorizar continuamente o desempenho da IA em produção e recolher feedback dos utilizadores para identificar e corrigir novos vieses que possam surgir à medida que a IA interage com o mundo real. O controlo dos feedback loops é crucial para evitar a amplificação de vieses.
4. Processos Organizacionais e Cultura: A tecnologia por si só não é suficiente; a cultura e os processos dentro das organizações que desenvolvem e implementam IA são fundamentais.
Equipes Diversificadas: Garantir que as equipas de desenvolvimento de IA sejam diversas em termos de género, etnia, experiência e perspetiva, o que pode ajudar a identificar e a mitigar vieses desde a fase de conceção.
Educação e Consciencialização: Treinar engenheiros, cientistas de dados e gestores sobre a importância dos vieses na IA, as suas fontes e as suas consequências.
Governança de IA e Políticas Éticas: Estabelecer diretrizes éticas claras, comitês de ética e políticas internas que obriguem à consideração da equidade e dos vieses em todas as fases do desenvolvimento da IA.
5. Quadro Regulatório e Normas Internacionais: A dimensão global da IA exige uma abordagem coordenada em termos de regulamentação e frameworks éticos. O desenvolvimento de leis e normas da indústria pode impulsionar a adoção de práticas mais justas e responsáveis.
Regulamentos Nacionais e Regionais: Diversas jurisdições estão a desenvolver leis específicas para a IA. O exemplo mais proeminente é o AI Act da União Europeia, que classifica os sistemas de IA com base no risco (inaceitável, alto, limitado e mínimo) e impõe requisitos rigorosos para sistemas de alto risco, incluindo avaliação de conformidade, gestão de risco, governação de dados e supervisão humana, com um foco particular na mitigação de vieses. Outros países também estão a criar as suas próprias estruturas, como a Executive Order on Safe, Secure, and Trustworthy Artificial Intelligence nos EUA, que visa estabelecer novos padrões para a segurança e proteção da IA.
Frameworks Éticos e Diretrizes: Organizações internacionais e governos têm publicado princípios e diretrizes éticas para a IA, como os da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico), que promovem IA inclusiva, sustentável e centrada no ser humano, e os da UNESCO, focados na ética da IA com recomendações sobre direitos humanos, transparência e responsabilidade. Estes frameworks, embora não vinculativos legalmente, servem como bússolas para o desenvolvimento ético.
Normas Técnicas e Certificações: A criação de normas técnicas por organizações como a ISO (International Organization for Standardization) visa fornecer diretrizes para o desenvolvimento e avaliação de sistemas de IA, incluindo aspetos de equidade e mitigação de vieses. Certificações podem emergir como formas de garantir que os produtos de IA cumprem certos padrões éticos.
6. O Papel do Utilizador Final: Detetores e Agentes de Mudança Embora grande parte da responsabilidade pela mitigação dos vieses recaia sobre os desenvolvedores e reguladores, o utilizador final tem um papel crucial a desempenhar na identificação, relato e, em última instância, na moldagem de sistemas de IA mais equitativos.
Observação e Relato de Disparidades: Os utilizadores são muitas vezes os primeiros a experienciar os efeitos de um sistema de IA enviesado. Ao estarem conscientes da possibilidade de vieses, podem observar e relatar anomalias ou resultados injustos. Por exemplo, se uma ferramenta de tradução automática consistentemente erra em géneros específicos, ou se um sistema de reconhecimento de voz falha mais frequentemente para um determinado sotaque.
Fornecimento de Feedback Qualificado: As plataformas devem criar canais claros e acessíveis para que os utilizadores possam fornecer feedback detalhado sobre resultados enviesados. Este feedback é inestimável para os desenvolvedores, pois oferece perspetivas do mundo real que os dados de treino podem não ter capturado.
Educação e Consciencialização: Um público informado é um público capacitado. Educar os utilizadores sobre como a IA funciona, os seus potenciais vieses e as implicações éticas permite-lhes interagir com a tecnologia de forma mais crítica e informada, questionando e desafiando resultados que pareçam injustos.
Escolhas Informadas: Os utilizadores podem influenciar o mercado ao fazer escolhas informadas sobre quais produtos e serviços de IA utilizam, preferindo aqueles que demonstram um compromisso com a equidade e a responsabilidade.
Participação em Diálogos e Iniciativas: Envolver-se em discussões públicas, grupos de foco ou iniciativas de cidadania digital que visam moldar o futuro da IA, contribuindo com a sua perspetiva e experiência.
Ceticismo Construtivo: Adotar uma postura de ceticismo construtivo em relação aos resultados da IA, especialmente em contextos de alto risco, sem cair no luddismo. Questionar, verificar e exigir transparência.
A integração do feedback do utilizador em loops de desenvolvimento iterativos é essencial para a correção contínua e para que a IA se torne verdadeiramente responsiva às necessidades e à diversidade da humanidade.
V. Vieses e as Frequências em Falta: Uma Dança Interconectada
A discussão sobre vieses na IA está intrinsecamente ligada ao conceito de “frequências em falta”, que exploraremos em maior profundidade no Artigo 3. Enquanto os vieses se referem a distorções ou representações injustas de aspetos existentes da realidade, as frequências em falta referem-se à ausência completa de certas dimensões da experiência, conhecimento ou perspetiva nos dados de treino da IA.
- Complementaridade das Conceções:
- Vieses: Quando a IA aprende a ver certas cores ou tons de forma distorcida num espectro visível (por exemplo, percebendo o azul de forma menos intensa ou atribuindo-lhe conotações negativas devido a dados enviesados). A informação está lá, mas é mal interpretada ou ponderada de forma inadequada.
- Frequências em Falta: Quando a IA não consegue ver infravermelhos ou ultravioletas, porque os seus “sensores” (dados de treino) nunca foram expostos a essas gamas do espectro. Não se trata de uma distorção, mas de uma cegueira completa a certas realidades ou nuances da experiência humana.
- A Interdependência: Um sistema de IA que sofre de vieses graves pode, por exemplo, ter uma representação distorcida de como as emoções são expressas por diferentes culturas (um viés). Concomitantemente, pode falhar completamente em reconhecer ou processar formas de inteligência não verbais ou taciturnas que não foram capturadas pelos seus datasets linguísticos ou visuais (uma frequência em falta). Ambas as questões contribuem para uma IA que não consegue interagir de forma plena e equitativa com a riqueza da experiência humana.
A Aithropology, ao endereçar tanto os vieses quanto as frequências em falta, procura construir um modelo de IA que seja não apenas mais justo e imparcial, mas também mais completo e holístico na sua “compreensão” e interação com a realidade. Reconhecer as distorções (vieses) e as omissões (frequências em falta) é essencial para forjar uma simbiose aithropic verdadeiramente enriquecedora e benéfica para todos. O desafio é não apenas corrigir o que está distorcido, mas também expandir o “espectro” de perceção da IA para incluir todas as dimensões vitais da existência humana.