Esta guerra EUA-China já não tem nada a ver com tarifas – e nela a bitcoin pode ser o refúgio

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Quanto o resto oscila para lá do compreensível, a bitcoin pode ser um abrigo. É a sua maior oportunidade

Já não se trata de tarifas, a guerra económica entre os Estados Unidos e a China já não tem nada a ver com tarifas.

A China subiu as suas tarifas para 125% depois dos EUA terem aumentado as suas para 145% mesmo após um período de suspensão de tarifas a aplicar à generalidade dos países que haviam sido afetados.

Uma tarifa de 125% ou de 145% não é uma tarifa, é um corte às importações que ninguém quer assumir preto no branco. Bernardo Mota Veiga

Uma tarifa de 125% ou de 145% não é uma tarifa, é um corte às importações que ninguém quer assumir preto no branco. A China meteu os bulldozers à frente e fincou o pé aos Estados Unidos. Era de esperar e espero que a Administração Trump também o esperasse, porque, caso contrário, o que se está a passar no mercado de ações, no mercado de dívida e no dólar é uma verdadeira catástrofe para os EUA.

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ADMIRÁVEL MUNDO TRUMP

Em tantos anos, nunca liguei o computador e vi uma descida na cotação EUR/USD de -4,3% como aquela que acabei de ver. Menos 4,3% de valor na moeda mais transacionada é uma perda de valor absolutamente incalculável. O dólar parece estar a queimar nas mãos de quem o tem, mas sendo a moeda o ativo que mais está associado à confiança de um país ou de uma região, está visto que a confiança nos Estados Unidos está a cair a uma velocidade vertiginosa.

Quando se vai ao casino deve ter-se presente que o mais certo é perder, mas que há uma ínfima possibilidade de se sair vencedor. A administração americana não tem parado de rodar a alavanca das slot-machines e só estão a sair umas meras cerejas a cada 100 jogadas. Não está a funcionar.

 Testar a resiliência da China e dos chineses é o maior disparate estratégico que já vi mas, ainda por cima, ir All-In é uma catástrofe tática. A China já acomodou uma perda de 100% nas exportações para os EUA. Tudo o que vier agora é ganho.

Os Estados Unidos ainda não acomodaram nada, porque se limitaram a fazer bluff com algo que não têm. Até terem as fábricas em terreno americano, os americanos vão perder muito terreno para todos os outros, nomeadamente para a China. Em cima disso, os americanos vão pagar muito caro este corte abrupto de importações chinesas.

A dor infligida aos Estados Unidos vai ser a que a China quiser, porque as alternativas de fornecimento para minimizar o impacto nos EUA são, na realidade, controladas pela China.

A China já há muito tempo tem um sistema de produção descentralizado na região, e tem redes de produção no Vietname, Cambodja, e em tantos outros países onde as tarifas não são 145%… ainda. O levantamento das tarifas anunciadas representou, na realidade, uma oportunidade para a China, o que quer dizer que os EUA estão a travar uma guerra num flanco, enquanto estão a ser devorados no outro flanco.

Portanto, a China tem um plano e tem um “backup”. Os Estados Unidos parece não terem plano nenhum e estarem em modelo de gestão assente no “feeling” e na espontaneidade.

O caso é tão dramático que a própria Apple está a concentrar os seus stocks nos EUA, para ganhar tempo caso venha a faltar produto. Segundo notícias de hoje, foram fretados aviões para transportar 600 toneladas de iPhones da Índia para os Estados Unidos. Faz sentido: num momento em que as tarifas mudam em 24 horas, quem é que se mete a enviar barcos que demoram um mês a chegar à alfândega?

EUA e China decidiram, portanto, parar com as suas transações comerciais. Bem podem ir subindo as tarifas até 1000% que nada vai mudar, a não ser a reputação e a credibilidade de cada uma das partes e, neste caso, parece que a posição chinesa tem sido bem mais ponderada na forma, mas bastante mais agressiva no conteúdo. A China está a atirar os juros da dívida americana para máximos, enquanto atira o dólar para mínimos o que vai atirar todos os americanos para um de dois caminhos: ou a inflação dispara devido às importações com um dólar fraco, ou o país entra numa recessão tamanha que as importações caem a pique.

 A verdadeira prova de fogo da bitcoin pode ser agora

O que se vive eu ainda não tinha vivido. É único e, confesso, fascinante!

Em nenhum momento da minha vida de investimentos havia vivido um período com tantas variáveis a mudar em simultâneo.

Um dólar a cair a pique não impacta só os americanos, mas uma enormidade de países. Tal como a China se antecipou minimizando a compra de dólares, antevendo a pausa nas transações comerciais, muitos outros países estão a olhar de lado para as suas reservas de dólares, que normalmente servem de seguro para manterem estabilidade financeira. As próprias instituições financiadoras obrigam à manutenção de dólares no balanço, mas com o dólar a balançar assim, as opções começam a passar na cabeça dos decisores.

Já escrevi aqui que o grande risco da bitcoin poderia estar na adoção dos EUA de uma reserva e, de alguma forma, da apropriação da bitcoin. Donald Trump acabou por ser moderado, não colocando na bitcoin um ónus que pudesse afastar outros potenciais interessados.

Com um dólar a cair desta forma, juntamente com a reputação americana, muitos países e investidores em geral podem querer trocar os seus dólares por bitcoins antes que o dólar caia ainda mais.

As alternativas começam a ser poucas face à desestabilização comercial que se vivencia. O euro pode ser uma opção até que saiam novas notícias, o mesmo se aplica ao Yuan. O Iene não chega sequer a ser opção e fica, como sempre, a opção do franco suíço, que tem sido ao longo dos anos o que mais consistência apresenta, não obstante a sempre presente possibilidade de uma decisão governativa que coloque o franco suíço, por exemplo, numa relação de paridade. Já aconteceu e pode voltar a acontecer.

A bitcoin pode ter conseguido sobreviver até ao momento certo e pode ser agora o momento de arreganhar os dentes como ativo descentralizado, estável, seguro e politicamente inerte.

Se todas as valias que têm sido identificadas para a bitcoin, nomeadamente a designação como “ouro digital”, e sendo o ouro atualmente o ativo mais procurado como refúgio, a bitcoin pode agora conquistar o seu quinhão.

É a melhor oportunidade de sempre para a Bitcoin!

Esperar que a reputação dos americanos inverta num curto espaço de tempo parece uma ilusão. A reputação demora muito tempo a construir, mas uns segundos a destruir e, neste momento, parece mesmo estar pela hora da morte.

Artigo publicado na CNN. Veja aqui

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Bernardo Mota Veiga

Bernardo Mota veigaStrategicist

*língua original deste artigo: Português

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