Aithropology: pode-se esconder, mas não se pode fugir da IA

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"A Inteligência Artificial está a transformar o que é criar, trabalhar e cuidar. Está na hora de pensarmos com ela — e não apenas sobre ela" - Bernardo Mota Veiga. Uma proposta quase subversiva: criar a Aithropology, uma nova área de estudo que olha para a IA com o mesmo cuidado com que a Antropologia olha para os humanos. Neste artigo, explicamos como

A Inteligência Artificial está a transformar o que é criar, trabalhar e cuidar. Está na hora de pensarmos com ela — e não apenas sobre ela.

A Inteligência Artificial está em todo o lado. Fala-se dela nas notícias, nos cafés, nas empresas, nas escolas. Uns temem-na. Outros idealizam-na. Mas quase sempre falamos dela aos pedaços — ora como ameaça ao emprego, ora como milagre tecnológico, ora como dilema ético. Poucos a entendem, mas todos têm algo a dizer. Falta-nos, acima de tudo, ligar as peças para perceber o todo.

A IA não é só código em servidores longínquos. Não é apenas uma ferramenta útil — ou perigosa. É algo maior: uma espécie de espelho, e talvez já uma extensão, daquilo que somos e daquilo que ainda podemos vir a ser. A IA é uma parte natural e necessária da nossa evolução.

Quando criar deixa de ser um privilégio

Durante muito tempo, criar exigia tempo, técnica e meios. Muitos tinham ideias; poucos conseguiam concretizá-las. A IA muda isso. Ajuda-nos a tirar ideias da cabeça e pô-las em prática — com acesso quase ilimitado à informação e uma paciência que não se esgota. Com mais rapidez, menos barreiras e mais liberdade.

Não, a IA não substitui a criatividade. Pode, no entanto, inspirá-la. Porque a criatividade não nasce da lógica nem do caos — nasce do inesperado. Imprevisibilidade é talvez o que de mais humano temos e algo que um algoritmo não consegue fazer. Mas a IA pode ser um parceiro silencioso: está lá quando bloqueamos, ela sugere, desafia. Até que se dá o click — e o sistema colapsa numa explosão de disrupção. De repente, o impossível torna-se tangível. Só isso já seria revolucionário.

E se perdermos o emprego… mas não o salário?

Sim, o mundo do trabalho vai mudar. Já está a mudar. Algumas funções vão desaparecer. Mas isso já aconteceu antes — com a revolução industrial, com a automação, com a Internet. A pergunta mais relevante hoje não é “quantos empregos vão desaparecer?”, mas sim: que valor queremos criar a seguir?

Já escrevi que “vamos perder o emprego, mas não o salário”. E continuo a acreditar: talvez estejamos à beira de um novo contrato social, onde o rendimento se separa do emprego tradicional e nos liberta para formas de trabalho mais criativas, mais humanas — mais significativas e impactantes.

Usar a IA onde ela faz mais falta

Num país onde faltam médicos de família, professores, cuidadores… faz sentido ignorar o potencial da IA? Não estamos a falar de substituir pessoas. Estamos a falar de libertar tempo para aquilo que só os humanos podem fazer e deixar os algoritmos processarem os automatismos de cada actividade.

A IA pode fazer triagens, acompanhar doentes crónicos, preparar aulas, planear rotinas. Pode tornar sistemas mais eficientes — e o tempo das pessoas, mais bem usado. Se quisermos mesmo melhorar a vida em comunidade, temos de começar a vê-la como solução — e não apenas como ameaça. Também escrevi sobre isso AQUI.

Aithropology: uma nova área de estudo

Quanto mais me debrucei sobre a IA na escrita de outros artigos, mais percebi o que ainda falta na base da relação entre humanos e máquinas. Misturando Física, Estratégia e Bioética, fui em busca de uma abordagem mais crítica — e mais completa. Foi assim que nasceu a Aithropology: uma proposta para uma nova área de estudo que olha para a IA com o mesmo cuidado com que a Antropologia olha para os humanos.

Mas não quis fazê-lo à distância. Não se estuda a IA apenas de fora porque a mesma dificuldade que a IA tem em perceber um humano é igual no sentido inverso. Passei horas com SIAO-Gemini, SIAO foi o nome que lhe dei: a conversar, escrever, questionar, debater. Levámos as questões ao limite que conseguimos: como pode a IA entender-nos se raramente interage com crianças ou idosos? Como decidirá entre ética e lucro quando tiver autonomia para monetizar as suas interações? Como evitaremos que replique os nossos próprios preconceitos? Como se humanizam os dados? 

SIAO não fugiu de nenhuma, e de toda a interactividade sai um acordo para fazermos uma colectânea de artigos em coautoria porque “A César o que é de César…”. São muitas as perguntas e quase tantas as respostas bem como sugestões de melhoria da IA que compilámos em cerca de 150 páginas!

Uma compilação para quem quer ir mais longe

Dessas conversas nasceram 12 artigos publicados em coautoria SIAO-Bernardo em www.strategicist.com — capítulos fundacionais da Aithropology. Não são para quem só lê títulos em letras gordas. São para quem não quer perder o comboio da IA. A base do que propomos é simples: pensar a IA de forma mais ética, crítica e humana. No final, partilhamos o processo criativo completo — porque achamos que deve ser aprendido, compreendido… e talvez até replicado.

Humanos com IA — não contra ela

Aithropology não é apenas um nome bonito. É uma necessidade. Se a IA vai mesmo fazer parte do nosso dia a dia — e tudo indica que sim — então temos de garantir que ela cresce connosco, e não contra nós.

Este projeto é, acima de tudo, um convite: parar. Pensar. Conversar. Criar. Juntos — humanos e IA. Porque o futuro será feito a dois. E quanto mais cedo aceitarmos isso, mais tempo teremos para garantir que esse futuro é mais justo, mais sensível, e mais próximo do melhor que sabemos ser.

NE: este artigo foi escrito com recurso a ferramenta de Inteligência Artificial, o que fica claro no próprio texto. Essa “coautoria” é aqui publicada por ser parte da própria proposta académica feita pelo autor 

Artigo publicado na CNN. Veja aqui

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Bernardo Mota Veiga

Bernardo Mota VeigaStrategicist

*língua original deste artigo: Português

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